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O primeiro mês do Gabriel foi um sonho. Cheguei até a me perguntar por que diziam que ser mãe de recém nascido dava tanto trabalho (mal sabia que dali há alguns dias iria descobrir!). Ele era um bebê calmo e tranquilo que só mamava e dormia. Mamava bem desde a sala de parto e dormia bem em qualquer lugar. Não trocou o dia pela noite. Chorava que nem uma chaleirinha com um som bem fininho e baixinho, não teve cólica e chegou a dormir 6h seguidas (pena que das 18h as 24h, então nem deu pra aproveitarmos hehe).

Pra dizer que nem tudo eram flores, percebemos com 15 dias que ele jogava a cabecinha pra trás depois das mamadas. Mas mostramos para a pediatra e ela disse para não nos preocuparmos, então obedecemos e seguimos nossas vidas despreocupados. Estava apaixonada pelo meu bebezinho, feliz, grata e descansada. Estava comendo de tudo e desfrutando da maravilha que é amamentar, comer que nem uma draga e ainda assim emagrecer.

Um dia, após comer um sorvete de flocos percebi que ele ficou agitado, irritado e chorando muito. Perguntei para a pediatra se podia ser alergia a leite e ela disse categoricamente que não. Segundo ela, essa fase era de maturação então ele teria desconfortos abdominais independentemente do que eu estivesse comendo. Não sabia se eram cólicas ou gases, mas resolvi que não comeria mais nada com leite pra ver se melhorava.

Aí veio o segundo mês e com ele uma baita assadura que ia e vinha por mais que tivéssemos todos os cuidados possíveis. Foi a primeira vez que chorei. De alguma forma me sentia culpada por ele estar assado. Será que não estava limpando, secando e trocando as fraldas direito? Estava tomando tanto cuidado…

Depois, os desconfortos durante as mamadas que não nos preocuparam começaram a piorar e ele começou a se contorcer muito depois de mamar. Isso quando conseguia mamar. Era só colocá-lo no peito para ele dar uma sugada e já começar a chorar. Meu coração apertava toda vez que ele saia do meu peito chorando. As dúvidas e inseguranças cresciam dentro de mim. Será que eu não estava conseguindo nutri-lo? Será que meu leite não estava fazendo bem pra ele ou não era suficiente? Aquele que era pra ser um momento tão prazeroso pra nós dois parecia um martírio. Desconfiamos de refluxo e começamos a tratá-lo, mas os choros se tornavam cada dia mais intensos, longos e constantes. Algo estava muito errado.

Além do refluxo, começaram a aparecer bolinhas vermelhas no rostinho dele. A principio achávamos que eram brotoejas (vejam só, o menino é calorento por que isso era no inverno!) então deixávamos ele o mais fresquinho possível, mas, de novo, só piorava. Ele esfregava o rostinho na nossa roupa, no berço, em tudo. Aquelas bolinhas foram se transformando em feridas ao ponto de ficar com o rosto todo machucado. Aquilo coçava muito e o meu bebêzinho calminho do primeiro mês se transformou em um bebê chorão e irritado. Passávamos pomada, creme hidratante, talco líquido, mas as bolinhas só se espalhavam mais pelo corpo todo. Até que o pescoço, dobrinhas, costas e barriga estavam todos vermelhos. Algo estava muito, muito errado. De novo, me culpei por tudo aquilo. Como poderia ter deixado a pele do meu bebê chegar a ter tantas feridas? Me sentia envergonhada e incapaz.

Foi o pior mês da minha vida. Via meu filho não conseguir ficar deitado por que o refluxo incomodava, não conseguia dormir durante o dia ou noite, sorrir ou brincar por que estava cheio de urticária pelo corpo e com o esôfago queimando de azia por dentro. Foram dias e noites em que nossos choros se misturavam. Dias e noites de muito colo, sling, oração e lágrimas. Algo estava extremamente errado e eu pedia encarecidamente que o Senhor nos mostrasse o que era.

Durante todo esse tempo (desde os 15 primeiros dias do Gabriel) eu estava sem tomar leite e como ele só piorava eu, erroneamente, achei que poderia parar com a dieta de restrição pois não era isso que estaria causando mal a ele. Fui ao mercado e comprei um delicioso chocolate ao leite para afogar minhas mágoas e no dia seguinte ele simplesmente não parava de chorar e vomitar. Era isso! Não tinha como não ser o leite! Mas como, se eu estava esse tempo todo sem comer leite e derivados? Vou explicar essa parte em detalhes no próximo post. Neste post, eu quero me concentrar no turbilhão que é descobrir que seu filho é APLV (e creio eu que esse deve ser o mesmo sentimento, variando em intensidade, de descobrir qualquer doença, deficiência ou limitação do seu filho).

Me senti sem chão, culpada e impotente. Senti raiva, medo e frustração. Senti uma sensação de vazio, como se tivesse perdido alguém. E tinha mesmo, estava dizendo adeus ao bebê que havia idealizado durante a minha gravidez e abrindo espaço para a realidade. Mas o que mais me doeu foi me sentir traída pelo Senhor (sim, passa cada coisa na nossa cabeça quando nossos filhos ficam doentes!). Vou explicar… Quando engravidei, passei os três primeiros meses em tensão antes de saber que o Gab não tinha nenhuma má formação ou deficiência e, em oração, o Senhor me confortava com o Salmo 139 dizendo que meu filhinho estava sendo maravilhosamente formado por Ele e que Ele o conhecia e amava antes mesmo de eu conhecê-lo e amá-lo. Confiei nisso durante toda a minha gestação e Ele permitiu que o meu filhinho tivesse um “defeito de fábrica”? Onde estava o maravilhosamente formado a que Ele me referia? Como Ele pôde permitir que isso acontecesse com a gente? Por que justo a gente teria que sofrer com as restrições de uma alergia alimentar? Por que eu não poderia ter passado três meses de dificuldades “normais” como as de qualquer mãe de recém nascido?

Passados os piores dias, Deus não me deu respostas, mas novas perspectivas. Dentre elas, que não existe perfeição enquanto Ele não voltar para restaurar o mundo, portanto o maravilhosamente formado a que ele se referia quando o Gabriel ainda estava no meu útero se tratava justamente de todas as qualidades e limitações dele, feito perfeitamente para aquilo que Ele quer fazer através dele no mundo e na nossa história. O Gabriel, do jeitinho que ele é, é perfeito para aquilo que Deus planejou para vida dele. Isso me faz ter certeza de que tudo que ele tem passado – as coisas boas e ruins –  desde tão novo têm contribuído para a pessoa que ele vai se tornar e estão sob o controle e soberania de Deus. Por mais que eu quisesse que só tivessem as coisas boas, são as ruins que mais nos fazem crescer.

Portanto, não foi defeito de fábrica e muito menos falta de amor dEle por nós. Deus não olhou pra gente e disse: “Ah, a Luiza e o Paulo não estão fazendo tudo certinho então eu vou dar pra eles um filho com alergia e deixá-los sofrer um pouco.” Muito pelo contrário, talvez justamente por buscarmos fazer tudo certinho que Ele tenha permitido que fosse assim.

A doença do meu filho tem me ensinado a mensurar a qualidade dos meus dias pela graça de Deus nos sustentando e guiando, não pela perfeição deles. A APLV tem me mostrado minha falta de controle, minha busca obstinada e errada pela perfeição, minha facilidade em julgar a mim mesma e os outros, minha impotência. A APLV me fez emagrecer 18 quilos (uma das melhores partes hehe), tem me feito mais humana, humilde, dependente, forte, disciplinada e equilibrada. Mas, mais importante, a APLV tem me ensinado o que é viver com esperança e fé de que dias melhores virão. Tem me ensinado a viver um dia de cada vez, a agradecer cada dia bom, superar cada dia ruim, a me levantar depois de cada “erro” e não os ficar remoendo por dentro. Me forçou a buscar a graça e depender dela a cada instante.

Através da alergia alimentar do nosso filho, Deus nos deu a graça de nos lembrarmos continuamente que as coisas com Ele não funcionam na base do mérito e que nosso esforço é em vão se Ele não estiver conosco. E sabe o que é o melhor de tudo? Ele está, sempre esteve e sempre estará. A graça dEle está sobre nós nos dias bons e nos dias ruins. Nada fugiu do controle dEle, por mais que tenha fugido do meu.