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Eu não achava que seria fácil me despedir de você pela primeira vez. Mesmo que fosse uma pequena despedida, só por algumas horas. Afinal de contas, contando com os nove meses em que você estava dentro da minha barriga foram dezesseis meses sem nos desgrudarmos um do outro. Um ano e quatro meses de você grudado em mim todo dia, o dia inteiro. Como não estranhar sair por aí sem você agora?

Você foi meu companheiro de madrugadas mal-dormidas e seus chutes em meio a reuniões enfadonhas me alegravam as tardes. Depois que você chegou, continuei te carregando – literalmente – pendurado em mim para todo canto, cantei para espantar seus choros, levantei de madrugada mesmo com febre para atender sua fome e seus risos encheram de graça mesmo os dias mais enfadonhos. Fui seu alento, aconchego e alimento por sete meses e você foi tudo que eu pensava e respirava. Como assim, de um dia para o outro, preciso te deixar aos cuidados de outro alguém? Meu primeiro impulso seria jogar tudo para o alto e me entregar inteiramente a você por quanto tempo fosse necessário. Mas toda vez que essa ideia vinha na minha mente, me olhava no espelho e, por algum motivo, não conseguia me reconhecer.

Os dias que antecederam nossa primeira pequena despedida foram doloridos e as noites foram regadas de lágrimas. Mas quando o dia chegou, ao abrir as portas do meu armário me deparei com alguém que não via há muito tempo: eu. Em meio aos cabides encontrei meu vestido favorito dado pelo seu pai ainda na época de namoro e ao tirar o pó das minhas bolsas encontrei meu caderno de anotações do trabalho. Meu coração saudoso se relembrou então que minha vida não se resumiu somente aos últimos meses. Reencontrei outros cantos do meu coração que você não havia preenchido e que demandam também meu cuidado e atenção para que eu me sentisse plena.

Para minha surpresa, ao te colocar naquele chão colorido repleto de outras mãozinhas do seu tamanho e ver seu sorriso tão sincero percebi que havia também no seu coração outros cantos que podiam ser preenchidos de novas experiências que não somente aquelas que eu lhe poderia proporcionar. Você se despediu de mim com leveza e meu coração saiu daquele lugar confiante de que aquele era mesmo o passo que precisávamos ter dado.

Aqueles primeiros meses em que dependemos tanto um do outro foram deliciosos e intensos, mas passaram. O que nós precisamos aprender no tempo de agora – aos poucos e sem traumas – é que somos duas pessoas diferentes e pra isso vamos passar por uma série de pequenas despedidas ao longo das nossas vidas. Por mais que eu queira congelar cada momento com você, preciso deixar que você cresça e te ver crescer é me despedir a cada dia de você como eu conhecia e abrir meu coração para o novo e desconhecido que está por vir.

No dia da nossa primeira pequena despedida percebi que eu já não era tudo o que você tinha e você já não era mais tudo o que eu vivia e, pra nossa alegria, isso não diminuiu o tamanho do nosso amor. Muito pelo contrário, ao nos distanciarmos um pouco, estávamos dando a chance de nosso amor se equilibrar e fazer brotar o melhor de nós dois.

Naquele dia descobri que pequenas despedidas doem, mas trazem com elas pequenos reencontros diários repletos de uma saudade tão boa que me fazem valorizar cada segundo ao seu lado não mais querendo congelá-los como se fossem os últimos, mas sim vivê-los com toda intensidade que merecem ser vividos.