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as 07h30 da manhã, há uma semana atras, com 37 semanas e 5 dias de gestação, eu comecei a sentir as primeiras contrações do trabalho de parto do joão. tendo como referencia o parto-a-jato do gabriel (que durou somente seis horas), pensei que logo na hora do almoço já conheceria meu caçula.

“não tenho uma foto digna da barriga!”, pensei, lamentando o fato de ter deixado tudo pra ultima hora. dei um jeito no meu rosto e tirei essa foto.

eram contrações com cólicas leves e dores nas costas, que iam e vinham em um intervalo ritmado de vinte minutos. nada que precisasse de pressa para ir para o hospital ainda.

desde a semana anterior eu já pressentia a iminência da chegada do João pois já vinha sentindo essas mesmas dores hora ou outra, sem ritmo. sabia também que naquela quarta-feira a lua virava minguante, mas estava chutando que só entraria em trabalho de parto mais para o final da semana, quando completasse 38 semanas.

gab e papai ainda dormiam e eu aproveitei esses minutinhos a sós com o João para orarmos juntos pedindo que Deus nos abençoasse ao longo daquele dia, presenteando o João com um dia de nascimento cheio de amor e respeito.

coloquei a playlist do parto pra tocar, avisei a doula e a obstetra, contei para o paulo e ele desmarcou os compromissos que ele tinha para o dia. resgatei a bola de pilates e tentei aliviar a pressão nas costas.

assim que o gab acordou, contei que o João estava chegando e não me lembro de tê-lo visto tão eufórico como naquele dia. ele passou a manhã tagarelando, dando risada sozinho, dizia “não aquedito! não aquedito!”, sentava na cadeirinha do “boão”, queria passar creme anti-estrias na minha barriga…
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meu sonho era que ele participasse ao máximo do parto do irmão. não queria passar muito tempo longe dele em um hospital e de repente aparecer com o joao em casa. queria que, de alguma forma, ele fizesse parte e se sentisse parte do processo.
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e assim foi. ele passou a maior parte do trabalho de parto com a gente, em casa. foi muito especial perceber que nossa familinha estava se preparando pra chegada do seu mais novo membro juntos.
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no começo da tarde, as contrações não estavam ficando mais fortes e só tinham diminuído para 15 min de intervalo entre uma e outra. almoçamos, montamos a mala de maternidade (não disse que tínhamos deixado tudo pra ultima hora?) e aproveitei pra descansar entre uma contração e outra cheirando o cangotinho do meu bebe mais velho.

as 16h liguei para a minha irmã (que está morando em São Paulo agora por conta da faculdade) e pedi que ela viesse passar a noite na nossa casa caso tivéssemos que sair de madrugada para o hospital.
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até então não tinha sentido dor de verdade, só bastante pressão nas costas e as cólicas junto com as contrações. começava a ficar ansiosa e me questionando quanto tempo ainda levaria até que eu pudesse conhecer meu jojo.

minha irmã chegou por volta das 17h30 e junto com ela as contrações passaram para intervalos de 7 minutos, mas ainda nada de aumento na intensidade da dor.

em todo caso, mandei mensagem para a doula pedindo que ela fosse pra minha casa e logo a minha obstetra me ligou perguntando como estava o andamento das contrações. como ela também fez o parto do gab e sabia do histórico do gab quase ter nascido no carro de tão rápido que o meu primeiro parto evoluiu, ela sugeriu que já fossemos para o hospital. saímos de casa meio às escondidas pra não causar insegurança no gab.

chegamos no hospital as 19h30, eu estava com quase 6cm de dilatação, fizemos todos os procedimentos com calma, fomos para a sala de parto natural. tomei um banho quente de banheira para incentivar as contrações, eu e o paulo curtimos um pouco mais a playlist, lanchamos, batemos papo, conversávamos com o joão e falávamos pra ele que iríamos passar por tudo juntos.

deu 23h30 e a minha obstetra pede pra fazer toque: quase 8cm de dilatação. senti um

alívio. eu não estava sentindo dor, mas pelo menos estava dilatando… mas ao mesmo tempo preocupação. quase 4h e só 2 cm de dilatação? ela mede também os batimentos cardíacos do joão e me lembro dela dizendo: “ele está ótimo! mas alguém precisa avisar o joão que ele tá pra nascer, pq agora ele tá dormindo”. pensa num parto mais humanizado e respeitoso que esse? o indivíduo até dorme! hehe
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foi então que minha obstetra me perguntou se poderia me dar um pouco de ocitocina sintética para ver se a dilatação evoluiria mais rápido. eu topei. queria conhecer o João logo! já estava me preparando psicologicamente pra dor que diziam que as contrações induzidas por ocitocina sintética causavam e enquanto esperava a dor chegar, peguei no sono…

acordei, já eram 03h da manhã e nada das tão esperadas dores. aumenta a ocitocina, massagem, dança na bola, anda pra lá e pra cá, volta pra banheira e a partir daí não me lembro mais dos horários… parece que toda dor que não senti veio de uma vez como uma avalanche.

a cabeça do joão começou a fazer pressão na minha pelve e instintivamente senti uma vontade insana de empurrá-lo. saí da banheira, fiquei um pouco em pé na beira da cama, falei pro joão: “filho, agora somos só nós dois! vou te ajudar a nascer!”

cada vez que eu empurrava, a dor ia se tornando mais insuportável. por que não tomei analgesia mesmo? se no parto do gabriel eu aprendi sobre a força que eu poderia ter, no parto do joão aprendi sobre resiliência, persistência e paciência. sobre os ritmos leves da graça que podem ser lentos e quase imperceptíveis, mas não menos transformadores.

fazia força, mas não conseguia sentir que ele estava vindo e pela primeira vez senti medo de não conseguir parir meu filho. lágrimas jorravam em meio aos meus gritos. nessa hora, quanta diferença ter ao seu lado o amor da sua vida e uma equipe sensível em quem você confia … lembro do paulo pegando firme na minha mão e da minha querida obstetra dizendo muito calmamente: “força Lu, ele tá chegando! só mais um pouco.”

voltei pra banheira, consegui relaxar um pouco e logo ele desceu e o senti coroar. nessa hora, supliquei a Jesus por força suficiente para encarar toda dor. e aí, o empurrei, com cada pulsar do meu coração e finalmente o conheci, joão, graça de Deus na nossa vida, as 05h20 da quinta-feira.

ah, o cheirinho de pele recém-nascida, aquele olhar me encarando e reconhecendo… nunca tinha te visto, mas sempre te amei. ele logo mamou, esperamos o cordão umbilical parar de pulsar para o cortarmos. ele não saiu mais do meu colo e ocupou plenamente o espaço que ele sempre teve no meu coração.