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Comparação é ladrão da felicidade

“Eu me comparei com você, eu me questionei como você conseguia e eu não consigo” – ela me escreveu e enquanto eu lia essas palavras meu estômago embrulhava. Eu já estive ali e sei como isso me fez mal. sozinha, descabelada, sem tomar banho, sem dormir, com um bebê que só chorava de dia e noite, bunda assada, pele em carne viva com dermatite atópica. Eu já estive ali. Eu já me comparei com a foto da mãe de unha feita e bebê com pele intocável que dormia a noite toda. Eu já me questionei como ela dava conta e eu não. Ah, mas ela tem ajuda né? Assim fica fácil – eu tentava justificar na minha mente.

Durante tempo demais eu achei que precisava corresponder a determinados padrões e expectativas que tinha a meu respeito. Eu me cobrava muito. Não me permitia errar. Queria ser a super-mulher-mãe-esposa-profissional-filha-amiga. Eu queria viver uma vida de excelência e media essa vida de acordo com as coisas que eu conseguia me propor a realizar com eficiência. Quando não as alcançava da maneira como estava esperando, eu me frustrava, martirizava e culpava.

Quem você está tentando impressionar?

Um pouco depois que eu voltei a trabalhar após a licença maternidade do meu primeiro filho, Gabriel, eu tive uma conversa muito franca com a minha então chefe e compartilhei com ela a minha profunda frustração por não estar mais conseguindo ser “a Luiza de antes”. Eu tinha muito receio do que as pessoas estariam achando da “Luiza de hoje frente à Luiza de antes”. Não estava conseguindo alcançar o padrão de qualidade que tinha colocado para a minha vida! Me lembro até hoje que ela olhou bem nos meus olhos e me fez as seguintes perguntas: “Lu, quem você está querendo impressionar? Quando você se imagina subindo em um palco, quais são as pessoas que você imagina na primeira fileira da plateia e que você não quer de jeito nenhum decepcionar? Qual é o rosto que você vê decepcionado toda vez que a possibilidade de fracasso se aproxima?”

Consegui visualizar claramente o rosto de umas quatro pessoas específicas sentadas bem na fileira da frente e percebi que eu passei minha vida toda tentando atingir os padrões que acreditava que essas pessoas tinham a meu respeito. Eu me cobrava por causa delas. Mas isso não passava de suposições, não passava de projeções irreais da minha cabeça. Essas pessoas nunca verbalizaram nenhuma dessas cobranças pra mim. Mesmo assim toda vez que eu falhava ou estava com medo de falhar em algo, a primeira pergunta que me vinha a mente era sempre: “O que vão achar de mim?” Seguido da imagem do rosto dessas pessoas decepcionadas comigo.

Quem disse que você tem que dar conta de tudo?

Nossa família e Adeni, nossa ajudante e braço direito

“Fiquei muito decepcionada quando soube que você tem babá. Não é demérito, mas achava que você dava conta de tudo sozinha.” – ela continuou. Eu sinto se algum dia causei essa sensação em você: de que eu dou conta e você não. Sim, já tentei dar conta sozinha e não deu muito certo. Na verdade, deu tão errado que eu entrei em depressão. Foi então que eu descobri o valor de aceitar diariamente que não dou conta, pedir ajuda e não sentir culpa por conta disso. A ajuda que tive, com família que mora longe, foi encontrar uma babá de confiança. Não, não pra me substituir ou terceirizar meus filhos, mas pra me complementar, pra me dar algumas horinhas por dia pra me preencher de outras coisas, me reerguer, voltar a florescer.

Só que a babá que fica meio período com os meus filhos hoje pra eu trabalhar, me torna a mãe que agora faz outras mães se sentirem de alguma forma aquém, como eu um dia me senti. Só que eu, mãe com babá de meio período, me sinto aquém justamente dessa mãe que se dedica integralmente – ela sim é mãe de verdade, que dá conta de tudo, afinal eu sem ajuda não dou conta. E assim a roda da comparação continua a girar, e a gente continua a se culpar. E a gente continua comparando o palco da vida dos outros com os nossos bastidores. Não, mana, não vamos continuar com isso. sempre que o monstrinho da dúvida bater na porta, querendo plantar uma sementinha de comparação vamos repetir e nos relembrar: ela também não dá conta sozinha e nenhuma de nós tem que dar conta sozinha. Seguimos juntas.

Pra completar, falei um pouco mais sobre o que podemos fazer com essa culpa toda que sentimos no video aqui embaixo: