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Algumas semanas atrás anunciei no meu instagram que faria uma semana de desintoxicação digital. Mantive acesso ao whatsapp e e-mail porque ninguém é de ferro, mas restringi o acesso àquilo que mais me toma tempo (e energia) no mundo digital que são as redes sociais. (Até deletei os aplicativos do meu celular para não entrar em tentação). Foi uma semana de muito aprendizado, mas antes quero compartilhar com você os principais pontos que me levaram a fazer esse detox.

Fiz esse video-resumo abaixo que foi para o meu recem-inaugurado canal do youtube, mas quis compartilhar aqui por escrito com mais detalhes cada um desses motivos (afinal de contas, adoro um textão!)

1) Estou com sobrepeso, preciso de detox e não é de comida!

Não, não são só os quilinhos a mais pós-maternidade que me pesam. Eu venho sentindo minha vida pesada demais, mas ao mesmo tempo não consigo ver nada sendo “produzido” a partir desse sobrepeso, sabe?

Eu sou uma pessoa que sempre tive muitos projetos e sempre dei um jeito de realizá-los. Mas nos últimos tempos não estava conseguindo fazer nada daquilo que me propunha. Naturalmente, culpei meus filhos. Ah, agora que eu sou mãe eu não tenho tempo mesmo pra fazer mais nada… Mas será que era isso mesmo?

Antes de me tornar mãe, eu sempre trabalhei com o mundo digital. Um dos livros que li durante a minha especialização em comunicação digital foi “A dieta da informação”, de Clay Johnson. O livro é muito bom, recomendo a leitura! Mas, se você é como eu e nem pensa em conseguir ler um livro inteiro hoje em dia, em linhas gerais, o que ele diz é o seguinte: através de um paralelo com a nossa relação com a alimentação, o autor nos diz que vivemos em uma era de sobrepeso informacional. É muita informação e nós não estamos consumindo essa informação com consciência e intencionalidade. Na verdade, nem percebemos que estamos consumindo! Além disso, não estamos escolhendo os “valores nutricionais” certos e estamos entupindo nossas mentes de “besteiras” e toxinas. Se não escolhermos fazer uma dieta das informações que consumimos, nossos cérebros não darão conta de processar tanta informação e não estarão bem nutridos!

Ta aí! Eu achava ingenuamente que eu estava me “entretendo” cada vez que eu entrava nas minhas redes sociais, mas estava na verdade consumindo informações. É como se cada post, cada link, cada foto fosse uma beliscadinha que eu dava na geladeira e, no final do dia, eu estava estufada. Não sobrava espaço para a informação que eu realmente queria consumir.

O primeiro motivo que me levou então a fazer essa semana de detox digital foi poder tirar um tempo para refletir e escolher melhor o que entraria na minha dieta de informações e na minha mente. Pra isso, eu achei necessário sair um pouco de cena e me reconectar comigo mesma, com a minha intuição, com Deus e entender: o que eu realmente estou precisando ouvir e ler neste momento? Qual deve ser o meu foco? E então, filtrar. Voltar para as redes sociais (porque a ideia não é viver isolada do mundo) mas voltar com foco naquilo que estou realmente querendo e precisando consumir de informações.

 

2) Não sou só viciada, tenho uma dependência química das redes sociais!

Teve mais um motivo que me levou a entrar em estado de alerta e decidir dar uma desintoxicada das redes sociais: percebi que estava viciada. Eu acordava e a primeira coisa que eu fazia era checar os feeds das redes sociais. Era só eu ter um tempinho livre que lá estava eu novamente. Isso tudo no piloto automático. Parece que o meu cérebro estava condicionado a fazer isso sempre que tivesse me sentindo sozinha, triste, cansada, estressada, entediada. E, pior do que isso, toda vez que eu entrava nesse modo de piloto automático eu perdia noção do tempo e perdia ali o pouco tempo que eu teria para estar fazendo qualquer outra coisa que eu precisasse fazer.

Li um post da Gabriela Brasil em que ela explicava que esse vício pode ter explicações científicas e fisiológicas: assim como nos viciamos em açúcar, televisão, café (tudo aquilo que produz gratificação instantânea mas não necessariamente bem-estar prolongado) cada like e coraçãozinho das redes sociais aciona no nosso cérebro uma transmissão neurológica de hormônios ligados ao prazer. Ou seja, a cada entrada nas redes sociais, eu tenho uma descarga de dopamina (neurotransmissor que regula a sensação de prazer) no meu cérebro e tenho um alívio imediato das sensações desagradáveis que eu estava sentindo. Quem não quer alívio instantâneo nessa nossa vida sobrecarregada, não é mesmo? Mas o que não estamos percebendo é que estamos gerando uma dependência química destes estímulos no nosso cérebro. Da próxima vez que eu me sentir entediada, triste, ansiosa, carente o meu cérebro vai me lembrar da forma mais rápida e com menor esforço de conseguir um alívio: checar as minhas redes sociais. O vício é mais do que comportamental, é também químico!

Deixa eu te contar um segredo (de quem trabalha como designer de experiências digitais): os aplicativos são projetados para que você tenha o hábito de usá-los com regularidade. As empresas por trás desses aplicativos tem profissionais especializados em observar, analisar, estudar o comportamento do usuário e tornar a experiência cada vez mais engajante – cof, cof – viciante. E para essas empresas, o mais interessante é que você gaste o máximo de tempo possível utilizando seus aplicativos, pois quanto mais tempo você os utiliza, mais oportunidades eles têm de fazer dinheiro através de publicidade.

Porque eu estou te dizendo tudo isso? Por que nós temos que ter senso crítico! Por também ser um espaço de interação social, nós usamos sem moderação algo que, na verdade, não deixa de ser também um espaço de mídia. Assim como aprendemos que não é saudável passarmos o dia inteiro na frente da televisão, precisamos aprender a sermos mais moderados e intencionais com o nosso uso das redes sociais.

Além de me sentir com sobrepeso de informação, eu decidi fazer esse detox digital também pois queria “desprogramar” o meu cérebro. Queria ter a oportunidade de criar novos hábitos e perder o hábito de entrar nas redes sociais no piloto automático. Queria poder usar os gatilhos do tédio, cansaço, carência para ler um livro, dormir, ligar para o meu marido.

 

3) Não preciso acumular mais informação, preciso vivenciar aquilo que eu já sei!

Terceiro motivo que me levou a fazer um detox digital foi: eu estava acumulando tanta informação mas não estava transformando nada em conhecimento e isso estava me deixando muito ansiosa. A cada nova informação que eu consumia, mais eu ficava com a sensação de que estava aquém, de que eu precisava saber aquilo e ainda não sabia. Mas eu nunca conseguia simplesmente sentar. E. ler. Aquela. Coisa. Por que tem sempre mil coisas acontecendo, são mil assuntos ao mesmo tempo e parece que se eu “perder” muito tempo em um assunto só eu vou ficar “para trás” em tantos outros assuntos. Então eu ficava compulsivamente acumulando conteúdo, salvando links compulsivamente, na esperança de que algum dia eu vá lê-los.

O ponto aqui é que, nós adquirimos cada vez mais informação (às vezes até mesmo pagamos por ela na ânsia de minimizar a nossa ansiedade de não estarmos a par de tudo que gostaríamos de estar sabendo) mas reservamos muito pouco tempo para vivenciar aquelas informações. Mais importante de tudo: preciso separar tempo para digerir essas informações. Informação por si só não gera conhecimento a não ser que ela seja processada. E pra processar informações nós precisamos de tempo e de – wait for it – ócio. Isso mesmo! Precisamos de espaço vazio na nossa mente pra deixar aquilo que estamos pensando maturar, amadurecer, ser vivenciado e criar raízes. Sabe como um alimento que foi germinado ganha muito mais valor nutricional do que um alimento meramente maduro? Quem entende de alimentação consciente sabe do que eu estou falando.

Mas o que está fazendo com que estejamos consumindo informação e nos atualizando compulsivamente? Um fenômeno chamado FOMO (Fear of Missing Out – Medo de estar perdendo no inglês). Nós não nos desconectamos porque temos pavor de que algo aconteça nesse meio tempo e nós não estejamos atualizados. De fato, o meu maior medo antes dessa uma semana que eu resolvi ficar sem redes sociais foi: “mas e se algo acontecer e eu não estiver lá?”. O segundo foi: “como eu vou fazer pra me atualizar de tudo que aconteceu online durante a semana que eu não estive lá?” O terceiro foi: “Será que vão perceber que eu não estive lá?” (Cara! Eu to doente mesmo!)

Precisamos fazer um download para o mundo real e desvirtualizar aquilo que escolhemos consumir no digital. Precisamos fazer um download dos relacionamentos que nutrimos virtualmente e colocá-los a teste de fogo das vivências de carne e osso para que esses relacionamentos se concretizem. Não nos esqueçamos que o mundo digital é ótimo em gerar conexões, péssimo em aprofundar laços. O mundo digital facilitou demais o acesso a informações, mas não necessariamente tornou o mundo mais sábio por conta disso (ouso dizer que foi exatamente o contrário que aconteceu – o mundo se tornou mais polarizado, superficial e intolerante)

Pois bem, espero que você tenha se identificado com alguns dos pontos e resolva você também repensar a maneira como você tem lidado com o mundo digital, especialmente as redes sociais. No próximo post irei compartilhar algumas dicas que tenho colocado em prática na minha vida para não ficar só no detox, mas realmente reeducar a minha mente para me reconectar com o que realmente importa.