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Junto com o nascimento de um filho vêm os conselhos e expectativas. Muito me falaram sobre o que esperar dos três primeiros meses de vida de um bebê, mas poucos conseguiram me adiantar o que estava por vir.

Eu achava que estava preparada emocionalmente para um período de simbiose e interdependência, para as cólicas e despertares noturnos, mas…

Ninguém me contou que passaria 90 dias sem comer quando sentia fome, conseguir ir ao banheiro quando sentia vontade, dormir quando tinha sono, tomar um banho longo e relaxante depois de um dia estressante, fazer as unhas, voltar a fazer exercício físico ou tomar meu café quentinho pela manhã e fazer meu devocional diário. Ninguém me disse que passaria 90 dias abrindo mão das minhas necessidades fisiológicas, emocionais e espirituais pelas dele.

Ninguém me contou que ele não teria cólicas, mas em compensação sofreria com um refluxo tão brabo que não o deixaria dormir direito de dia e de noite. Ninguém me contou que não adiantaria tratar o refluxo, pois seria sintoma da alergia que ele teria a leite de vaca, soja, ovo e peixe. Ninguém me contou que até descobrirmos a alergia seriam dias e noites de choros inconsoláveis, tanto dele quanto meu. Ninguém me contou que para poder continuar amamentando eu teria que deixar de comer todos esses alimentos (e produtos que tenham traços destes alimentos – o mais difícil!).

Ninguém me contou que, por mais cansada e desesperançosa que estivesse, seria só olhar para ele para conseguir forças para continuar. Ninguém me contou que, no meio de todo esse turbilhão, eu teria tanta saudade da minha vida como era antes. Ninguém conseguiu me descrever o quanto eu seria capaz de abrir mão por ele. Ninguém me fez mensurar o quanto doeria em mim quando doesse nele. Ninguém me disse que, por melhores que fossem as minhas intenções e cuidados, o que iria acontecer com o meu filho nesses três primeiros meses não dependia só de mim.

Ninguém me contou que, por mais que eu quisesse (muito!), eu não podia evitar que ele sofresse. Ninguém me fez ter a consciência de que meu filho passaria por dificuldades que não seriam fruto da minha performance como mãe. Ninguém me disse que aquilo que estava fazendo ele chorar tanto não dizia nada a meu respeito e nem a respeito dele. Ele não era um bebê chorão e eu uma não era uma mãe ruim (por mais que achasse!). Meu filho não estava do jeito que estava por algo que eu estivesse fazendo ou deixando de fazer. Meu filho estava mal por que vai demorar algum tempo até o intestino dele amadurecer e conseguir lidar bem com certos alimentos. E não havia nada que eu, como mãe, pudesse fazer para acelerar esse processo ou evitá-lo!

Ninguém me contou nada disso por que a nossa experiência, como mãe e filho, é única e incomparável. Meu filhinho é um ser humano complexo, imprevisível e misterioso e existem inúmeros fatores externos que interferem no “bom trabalho” que estou tentando fazer. Durante esses três primeiros meses quanto mais eu o comparava aos comerciais de margarina, livros, conselhos, blogs e demais bebês mais eu perdia a oportunidade de aprender aquilo que ele estava tentando comunicar, perceber as nuances da sua personalidade e aceitá-lo como ele é. Quanto mais eu tentava enquadrá-lo em caixinhas e conceitos, mais longe eu estava de dar a ele o que ele de fato precisava nesse momento: minha compreensão, dedicação, colo e amor. A maternidade é linda e dolorosa e parece que você tem que vive-la para compreender plenamente isso, não adianta te dizerem com antecedência.

Nesses três primeiros meses eu aparentemente “fracassei” conforme os padrões dos livros e conselhos que me foram dados. Não, meu filho ainda não dorme a noite inteira, faz sonecas de menos de 1h30, não fica quietinho no carrinho ou no berço e precisa de muito colo e balanços para se aquietar quando está chorando (e olha que ele chora bastante!). Mas, quer saber? Não existe performance na maternidade e ninguém (nunca!) vai ser eleita a melhor mãe do mundo. Não existe criança perfeita e nem mãe perfeita. Olhamos para a grama do vizinho e ela sempre parece mais verde, mas isso é por que ninguém posta foto do seu filho se esguelando nas redes sociais (acredite que eu tive vontade de fazer isso nesse post, mas nem assim eu tive coragem! hehe).

Esses três primeiros meses de desgaste físico e emocional me fizeram perceber que meu papel não é tentar ser a melhor mãe do mundo por que isso pressupõe comparação. Percebi que meu papel não é protege-lo de todo mal, esse é de Deus. Meu papel não é evitar que ele sofra, esse é impossível.

Meu papel é amá-lo. Amar sua fragilidade e sua confiança, suas faltas e suas qualidades, seus sorrisos e seus gritos de dor, seus dias bons e dias ruins. Amá-lo quando estiver apaixonada por ele e quando ele me decepcionar. Amá-lo quando estiver orgulhosa das suas realizações e quando ele não conseguir atingir o padrão que eu imaginava pra ele. Amá-lo quando ele estiver bonitinho e sorridente e quando ele estiver tirando a minha paciência de tanto chorar.

Amá-lo e ponto.

Amá-lo ao ponto dele se sentir completamente a vontade no meu  amor.
Amá-lo ao aceita-lo como ele é. Amá-lo ao guia-lo a se tornar o melhor que ele pode ser. Amá-lo até algum dia ouvir dele – e de mais ninguém – que eu fui a melhor mãe que ele poderia ter.